Na tarde do dia 18 de abril de 1775, um
jovem que trabalhava numa cavalariça em Boston escutou um oficial do Exército
britânico comentar com outro algo a respeito de “uma confusão dos diabos da
manhã”. O rapaz foi correndo a North End, até a casa de um prateiro chamado
Paul Revere, para contar a novidade. Revere o ouviu circunspecto. Não era o
primeiro boato que chegava ao seu conhecimento naquele dia. Já havia escutado
falar de uma quantidade fora do comum de oficiais britânicos reunidos perto do
cais, conversando em voz baixa. Membros da tripulação britânica haviam sido
vistos correndo de um lado para outro nos barcos amarrados ao HMS Somerset e ao 30 HMS Boyne, no porto de Boston. Vários marinheiros tinham sido
vistos em terra naquela manhã, cumprindo o que pareciam ser missões de última
hora. No transcorrer do dia, Revere e seu amigo Joseph Warren foram se
convencendo cada vez mais de que os ingleses estavam prestes a dar o grande
passo de que se falava havia muito tempo – marchar até a cidade de Lexington,
ao noroeste de Boston, para prender os líderes dos colonos, John Hancock e
Samuel Adams, e depois seguir para a cidade de Concord e apreender as armas e a
munição que algumas milícias coloniais locais tinham armazenado ali.
O que aconteceu em seguida virou lenda, uma
história contada em todas as escolas americanas. Naquela noite, às dez horas,
Warren e Revere se encontraram e decidiram que era preciso avisar as
comunidades ao redor de Boston de que os ingleses estavam chegando, de modo que
a milícia local pudesse se preparar para enfrentá-los. Determinado, Revere foi
de balsa do porto de Boston até o desembarcadouro em Charlestown. Pulou em um
cavalo e iniciou a sua célebre “cavalgada da meia-noite” até Lexington. Em duas
horas, percorreu 21 km. Em todas as cidades ao longo do caminho – Charlestown,
Medford, North Cambridge, Menotomy –, ele batia as portas e dava a notícia
dizendo a todos os líderes dos colonos que os ingleses estavam a caminho e
pedindo que espalhassem a notícia. Os sinos das igrejas começaram a tocar. Os
tambores a bater. A novidade se alastrou como um vírus quando aqueles que
tinham recebido a mensagem de Paul Revere enviaram seus próprios mensageiros a
cavalo, até que os alarmes soaram por toda a região. A notícia chegou a
Lincoln, em Massachusetts, a uma hora da manhã; em Sudbury às três; em Andover,
64 km a noroeste de Boston, às cinco oras; e, às nove, já estavam em Ashby,
perto de Worcester. Quando, por fim, os ingleses iniciaram a sua marcha sobre
Lexington na manhã do dia 19, a incursão pelo interior do país – para seu
grande espanto – encontrou uma feroz e organizada resistência. Naquele dia, em
Concord, os ingleses foram totalmente derrotados pelo exército dos colonos, e
desse confronto originou-se a guerra conhecida como Revolução Americana.
A cavalgada de Paul Revere talvez seja o
exemplo histórico mais famoso de uma epidemia de propaganda boca a boca. Uma
notícia extraordinária percorreu uma distância enorme em muito pouco tempo,
mobilizando toda uma região para pegar em armas. Nem todas as epidemias de
propaganda boca a boca são tão eficazes assim, é claro. Mas podemos dizer com
certeza de que a informação transmitida deste modo continua sendo – mesmo nesta
era da comunicação de massa e das campanhas publicitárias multimilionárias – a forma
mais importante de comunicação humana.
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