A escultura é uma arte intimidadora.
Imagine um imenso bloco de rocha, que pesa muitas toneladas, no soalho do
estúdio do artista. Agora se veja diante dessa rocha. Você fica pequenininho. À
sua frente, um gigante imóvel e impenetrável. Agora imagine que terá de começar
a esculpir para atender uma encomenda de uma igreja, de uma família rica ou
talvez dos governantes do seu país.
Como você vai transformar essa rocha numa
magnífica Pietà?
E ainda que você tenha algum êxito e sua
concepção comece a tomar forma, qualquer movimento em falso com o cinzel, uma
escapulida do malho ou até um defeito imprevisto na rocha poderá danificar seu
trabalho, sem possibilidade de conserto. Imagine então, esculpir o David de Michelangelo, figura de um
jovem herói com mais de 4m de altura. Imagine o desafio que seria criar uma das
maiores obras-primas da escultura na história da humanidade.
Não resta a menor dúvida de que
Michelangelo foi um dos maiores escultores da história, um homem capaz de
transformar um sólido bloco de mármore numa forma vívida que associava a
técnica e as proporções greco-romanas a um expressionismo apaixonado nunca
antes vista nessa arte. Contudo, mesmo levando-se em conta sua genialidade,
como se explica que Michelangelo tenha conseguido esculpir o David a partir de um gigantesco bloco de
pedra tão danificado que seus contemporâneos o consideravam “imprestável” e “sem
valia”? O que lhe permitiu ter êxito ante tal desafio? Como será que conseguiu
reunir a coragem para começar?
A resposta é simples: Michelangelo olhou
para o bloco e viu David em seu
interior.
Michelangelo tinha uma convicção decisiva a
respeito da arte da escultura. Ele considerava que em cada bloco de pedra havia
uma figura oculta, esperando para ser revelada. Para Michelangelo, era claro o
trabalho a ser feito pelo mestre em escultura: eliminar o que não fazia parte
da figura e desvendar a obra-prima contida na pedra. Eis como ele próprio
descreveu o processo em um de seus sonetos:
“No toque do cinzel
A pedra bruta e fria
Torna-se molde vivo.
Quanto mais perde o mármore,
Mais cresce a estátua”.
Com esta perspectiva, a missão de extrair
um David da rocha firme parece menos
impossível. David já está lá. O
trabalho de Michelangelo foi simplesmente revelá-lo.
Existe um David dentro de você.
Quem quer que você seja, o que quer que
esteja fazendo, existe uma obra-prima no interior da pedra da sua vida
cotidiana. Para revelar essa obra-prima oculta, para dar saltos em sua carreira
e em sua vida, você precisa, tal como Michelangelo, ver que esses avanços já
estão lá. Você deve olhar para dentro de si mesmo e dar-se conta do que
realmente quer, capitalizar suas paixões e visualizar a obra-prima que está em
seu interior.
[Extraído do livro: “O
Método Michelangelo”] / Kenneth Schuman & Ronald Paxton
Um
pouco de história:
Conta
a lenda que durante três meses Michelangelo ia a um local onde havia um bloco
de mármore de carrara, e permanecia lá, sentado, durante horas, somente mirando
um bloco. Um observador, não entendendo a situação, perguntou-lhe: “O que está
fazendo, você que vem e fica por horas olhando esse bloco de pedra?”.
Michelangelo sem desviar o olhar disse-lhe: “Trabalhando”. Três anos depois
nasceria o David.
David é uma das esculturas mais famosas do
artista renascentista Michelangelo. A escultura retrata o herói bíblico com impressionante
realismo anatômico, sendo considerada uma das mais importantes obras do
Renascimento e do próprio autor. A escultura de 5,17 metros encontra-se
atualmente em Florença, na Itália, cidade onde foi encomendada a obra para
Michelangelo.
Esta escultura é uma prova de superação das
limitações humanas. Michelangelo levou três anos para concluí-la, num período
em que seu principal concorrente era Leonardo Da Vinci. Michelangelo utilizou
para a escultura um mármore de carrara envelhecido por 25 anos. Michelangelo
optou por representar David não após a batalha contra Golias (como fizeram os
outros escultores antes dele), mas em um momento imediatamente antes da
batalha. Isso explica o furor nos olhos de David, que observa com penetração o
adversário.
A escultura impressiona por todos os
ângulos. Visto de frente, David demonstra a força que está prestes a usar.
Visto de costas, uma suavidade irrompe dos contornos de seu corpo. Visto de
lateral, percebemos que o mármore utilizado para corporificar David é
incrivelmente fino, significando que Michelangelo não poderia cometer nenhum
erro sequer, caso contrário estaria sujeito a comprometer a obra inteira e,
sobretudo, sua reputação em Florença – e na Itália, de um modo geral.
Michelangelo não era somente escultor, mas
devia ser também uma espécie de engenheiro, pois não bastava somente executar a
escultura – era preciso de igual maneira, transportá-la para o loca em que se
estabeleceria. Transportar uma estátua de mármore de 5,17 metros no ano de 1504
sem danificá-la, não era nada fácil.
Resumindo, o David deu muito prestígio e
dinheiro para Michelangelo. Foi julgada como uma escultura inovadora por retratar
David antes da batalha com Golias, reconhecida por seu realismo anatômico do
corpo masculino guerreiro e configura-se, hoje, como uma obra de arte das mais
famosas que existem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário