“Não
é fácil tomar o caminho da consciência e da saúde energética. Isso implica
olharmos não só panoramicamente a vida, mas enxergá-la dentro do nosso eixo de
dentro para fora e de fora para dentro. Implica sentir, acolher e dar uma
direção para a verdade que pulsa dentro da gente, abrir a consciência para
sermos protagonistas da nossa vida” (PAIVA E NUNES, 1988, p. 92).
O movimento que impulsiona as
pessoas a buscarem ajuda, é um movimento resiliente.
A palavra resiliência apresenta
várias definições de acordo com a área em que se emprega o termo. Essa palavra
tem origem no latim, resílio, que
significa retornar a um estado anterior.
Na Engenharia e Física,
resiliência é definida como a capacidade de um corpo físico voltar ao seu
estado normal, depois de ter sofrido uma pressão sobre si. Em Ciências Humanas,
resiliência representa a capacidade de um indivíduo, mesmo num ambiente
desfavorável, construir-se positivamente frente às adversidades. As formas
positivas de conduta de crianças e/ou grupos de indivíduos apesar de viverem em
condições adversas, motivaram e deram origem ao desenvolvimento de pesquisas no
campo das Ciências Sociais.
“Outros
conceitos são apresentados, dando o mesmo enfoque ao termo: capacidade de uma
pessoa ou sistema social de enfrentar adequadamente as circunstâncias difíceis
(adversas), porém de forma aceitável; capacidade universal humana para
enfrentar as adversidades da vida, superá-las ou até ser transformado por elas;
conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam ter uma vida sã
vivendo em um meio insano; capacidade de resistir à adversidade e de utilizá-la
para crescer que, desenvolvida ou não, cada pessoa traz dentro de si;
capacidade de as pessoas resistirem às adversidades e de, até mesmo,
aproveitá-las para seu crescimento pessoal e profissional. Os conceitos de
resiliência são muitos, e todos estão relacionados aos sentimentos positivos. A
coragem seria alavancada para o seu desenvolvimento quando se pretende o
enfrentamento das condições adversas do meio em que se vive” (MONTEIRO et al., 2001).
“Em
Psicologia, o estudo do fenômeno da resiliência é relativamente recente. Vem
sendo pesquisado há cerca de trinta anos, mas apenas nos últimos cinco anos os
encontros internacionais têm trazido este construto para discussão” (YUNES,
2003).
Os termos invencibilidade ou
invulnerabilidade foram os precursores da resiliência; mas hoje não se passa
mais essa idéia de resistência absoluta, pois mesmo os resilientes têm
resistência relativa. São seres humanos com habilidade para superar
adversidades, no entanto, não chegam a ser invulneráveis, nem invencíveis. Ser
resiliente é ter a capacidade de reerguer-se depois de ter sido atingido.
Normalmente as pessoas sentem-se impotentes diante das dificuldades, mas o
resiliente não. Ele não tem pena de si mesmo, e luta bravamente para reverter a
situação, pois acredita que merece sair da dificuldade.
“A
resiliência se constitui durante o desenvolvimento do ser humano, e pelo fato
de ser construída, ela pode ser promovida. Para isso é preciso reconhecer os
problemas, e as possibilidades de seu enfrentamento. A partir de um
planejamento, com uma meta bem formulada, é possível vencer as dificuldades, se
desfazendo dos problemas ou, algumas vezes aprendendo a conviver com os mesmos,
quando ainda não é possível solucioná-los” (TAVARES, 2001).
“O momento atual para a pessoa
resiliente é sempre acompanhado de uma perspectiva para o futuro. O resiliente
faz uso intensivo da imaginação e realiza ações concretas de curto prazo;
enfrenta as situações difíceis, identificando sempre algo possível de ser
feito. É, portanto, protagonista, lutador e busca constantemente o
aprimoramento. Nos momentos de vulnerabilidade do sujeito resiliente,
normalmente aparece outro sujeito significativo, que, com um simples gesto de
humanidade, ajuda-o a se sustentar. A resiliência é uma construção de pelo
menos dois, e não um fato individual” (VICENTE, 1996). Podemos constatar isso,
na fala de um dos sujeitos de nossa pesquisa, que superou muitos problemas,
dentre eles, um câncer na região da face:
“Mas
aí também eu acho que tudo isso, é a base familiar. Meu pai e minha mãe,
sempre, eles foram pessoas bem resignadas, pessoas que diante das dificuldades
demonstraram assim, formas, saídas. [...] É, nunca se deixaram fraquejar diante
das dificuldades. Eu acho que eu aprendi muito com eles. [...] E lutar, eu acho
que isso aí eu herdei, não sei se eu herdei ou aprendi com eles. É não se
deixar abater por problemas. Ir à luta, buscar alternativas, eu acho que a
pessoa que diante do primeiro problema, ela já se deixa abater, não chega a
lugar nenhum” (Márcia/vice-diretora de 1ª a 4ª série).
Nossa pesquisa considera
importante o estudo da resiliência pelos educadores, no sentido de promover um
fortalecimento dos mesmos. As habilidades das pessoas resilientes podem trazer
a superação da síndrome de burnout na
educação (FERENHOF; FERENHOF, 2001). Consideramos a resiliência um caminho que
pode contribuir para renovar a energia dos profissionais, a fim de que os
mesmos não entrem, ou se já entraram, venham a sair da síndrome de burnout: a resiliência.
“Passa a ser o caminho que nos
conduz a um desafio de mudar a nós mesmos, sendo mais flexíveis, desenvolvendo
a reflexibilidade, cedendo espaço para o novo, abrindo-se para mudanças nas
profundas que exigem até mesmo o desaprender de coisas inúteis para poder empreender,
agir e resistir, sem quebrar, ou seja, no meio das mais diversas contrariedades
que a vida nos imponha, saber ser, comunicar, estar e sobreviver” (CARVALHO,
2003).
A movimentação resiliente busca
soluções para os conflitos, e como já vimos, a emoção é movimento, é o mover
para fora de si mesmo. Se no ambiente profissional, a vida emocional dos profissionais
fosse levada em consideração, um movimento resiliente poderia ser constituído,
dando suporte afetivo, fortalecendo emocionalmente os profissionais.
As pressões, os desafios, as
frustrações, a sobrecarga de trabalho, as críticas, a falta de autonomia, são
algumas das dificuldades que têm levado os profissionais a apresentarem um
mal-estar na profissão (ESTEVE, CODO, MOTA-CARDOSO, LIPP). Essas dificuldades
levam a um sentimento de desencanto. Entretanto alguns profissionais, apesar de
sujeitos às mesmas adversidades, continuam resistindo, continuam na luta,
agindo, produzindo, modificando seu espaço.
Não há dúvida de que temos de
ser mais fortes do que as adversidades: o desemprego, os salários baixos, o
aumento da violência, a desestruturação familiar são algumas das dificuldades
que precisamos enfrentar. Para isso precisamos controlar nossas emoções, com o
intuito de não alterarmos nossa saúde energética. Conscientemente temos que
procurar saídas para as nossas dificuldades.
Damásio (2000, p. 20), a
respeito da consciência nos diz: “Em seu nível mais complexo e elaborado, a
consciência ajuda-nos a cultivar um interesse por outras pessoas e a
aperfeiçoar a arte de viver”. A essa afirmação, acrescento: quanto mais
conscientes nos tornarmos, mais criativos seremos. E hoje a criatividade é uma
exigência, já que precisamos a todo instante, enfrentarmos novas situações,
muitas vezes ainda não vivenciadas, não experimentadas. Precisamos criar
soluções para problemas ainda não resolvidos.
Já que vivemos o tempo das
inquietações, das transformações, onde não há espaço para a estagnação, onde
tudo se movimenta, o profissionalismo, neste sentido, é favorecer essa
movimentação, essa busca de soluções. O âmbito laboral pode aprender muito com
o movimento resiliente. A confiança do resiliente em si mesmo, em sua
capacidade de resistência e a certeza de ser um merecedor de dias melhores, faz
com que ele se invista de coragem para sair em busca.
Os atuais profissionais necessitam
elaborar novos saberes e reelaborar os vários saberes já existentes, em função
das necessidades que surgem a todo instante na sociedade. A reflexão, a ação, a
curiosidade e o espírito crítico da incerteza precisam ser desenvolvidos dentro
de um projeto de crescimento harmoniosos entre as várias dimensões, sejam elas
físicas, intelectuais, emocionais e espirituais. Temos o direito a uma vida saudável,
onde os aspectos sociais, planetários e cósmicos sejam considerados. O
profissionalismo precisa prestar a esse serviço, de despertar as consciências
para a convivência harmoniosa entre os seres vivos, num planeta com mais vida,
num cosmo mais energético. “Aí faz sentido falar em respeito, ecologia, paz,
justiça, solidariedade, diálogo, respeito mútuo. Fora desse norte, estamos
condenados ao aniquilamento pelo imperativo do ‘cada um por si’” (NOGUEIRA;
CORREIA, 2002, p. 32).
Vivenciamos um tempo onde não há
espaço para respostas definitivas e únicas, propomos com esta nossa pesquisa,
uma aliança entre dois saberes: Reich, com sua visão de homem energético, tem
muito a contribuir no combate à síndrome de burnout,
assim como, o estudo de resiliência pode levar os profissionais a desenvolverem
estratégias para enfrentar essa síndrome que tem ameaçado o desempenho no
trabalho.